quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Biografia de Clementina de Jesus é lançada em Sorocaba

Obra foi baseada em trabalho do jornalista sorocabano Werinton Kermes, que fez documentário sobre a artista em 2011

Não por acaso Sorocaba recebe nesta quarta-feira (22), o lançamento do livo Quelé, a Voz da Cor, de autoria dos jornalistas Felipe Castro, Janaína Marquesini, Raquel Munhoz e
Foto: Divulgação
Luana Costa
. Ainda no início do processo de pesquisa sobre o tema, foi o acervo do jornalista e agora Secretário da Cultura de Sorocaba, Werinton Kermes, que alicerçou o rumo do trabalho do quarteto carioca.  Como conta Janaína Marquesini, o acervo de Kermes – que lançou em 2011 o documentário Rainha Quelé - foi um dos primeiros materiais sobre Clementina de Jesus que eles tiveram acesso e serviu de base para a obra. “O lançamento do documentário do Werinton, marca, em nossa opinião, um processo de resgate de cultura popular por meio da memória de Clementina de Jesus em Sorocaba. Por conta disso, não poderíamos deixar de fazer um lançamento na cidade”, reforça Janaína.
O lançamento acontece nesta quarta, às 20h, no clube 28 de Setembro, e a entrada é gratuita. O evento, que terá também Márcia Mah apresentando o repertório de Clementina, faz parte da programação de Carnaval do município.

Kermes, também pesquisador e apaixonado pela história de Clementina, enfatiza a importância do trabalho dos jornalistas e a qualidade da obra, cujo resultado avançou para descobertas importantes da vida da sambista de voz rouca e forte. “É sempre importante desvendar histórias de artistas como Quelé. Mais do que isso, trazer à luz a biografia dessa negra, pobre, empregada doméstica, cuja bagagem remete à nossa ancestralidade”, defende Kermes.

Biografia
A biografia escrita – uma das mais completas sobre a sambista – percorre desde a infância pobre em Valença, no interior do Rio de Janeiro, até o momento em que desponta para a carreira artística, já passados mais de 60 anos de vida.

Como conta Janaína, ainda na época da faculdade os amigos deram início à pesquisa e, ao se deparar com tanta história ainda a ser esmiuçada e contada, tomaram fôlego para levantar esse material mais completo. “Ela era neta de escravos, negra, empregada doméstica e lançada artisticamente aos 63 anos de idade. Mais do que isso, ela contrariava o padrão estético e até artístico que dominava sobre as cantoras brasileiras, a imensa maioria delas com canto suave, soprano, enquanto a Clementina tinha o canto contralto, voz rouca, forte, algo muito diferente, muito ancestral.  Isso tudo, por si só, já renderia uma grande história. Mas a gente foi além e descobriu muitas outras coisas interessantes a respeito”.

Com as pesquisas descobriram que Clementina de Jesus cantava coisas que levava na memória, cantos que ela ouvia quando era garota “sabia de cor inúmeras cantigas de trabalho, curimas e lundus, cantos ancestrais que levava consigo”. Também levantaram que, depois de famosa, Quelé cantou e gravou com alguns dos maiores artistas brasileiros: Cartola, Pixinguinha, Paulinho da Viola, Milton Nascimento, João Bosco, Clara Nunes e Martinho da Vila, entre tantos outros. “Isso tudo evidencia que a história de Clementina é riquíssima, ela enquanto mulher, negra, sambista. Representa um Brasil profundo, um Brasil do povo que não é comumente representado nos veículos de comunicação”.

Mais pesquisas

Mesmo com descobertas importantes, o quarteto reforça que as pesquisas não findam com o lançamento do livro, e ainda há fatos que querem esclarecer e aperfeiçoar, como a localização da família para a qual Quelé trabalhou durante mais de duas décadas no Grajaú, zona norte do Rio, além de esclarecer uma informação que chegou após a publicação, de que: Clementina se envolveu no fim da vida com uma escola de samba de Rio Claro, a Voz do Morro. “Um detalhe insólito que com certeza vamos buscar aprofundar para incluir em edições futuras da biografia. Isso e também as novas descobertas. Estamos atentos”, afirma Janaína.

Homenagem musical
Além do trabalho dos jornalistas sobre a figura de Quelé, o público também poderá conferir o resultado da pesquisa da cantora sorocabana Marcia Mah - que há anos se debruça sobre os cantos de lutas da América Latina -  e irá visitar o repertório de Clementina. “O repertório dela fala de liberdade, trabalho, natureza, sua voz carrega uma ancestralidade que nos identifica, nesse sentido é uma fonte inesgotável de conhecimento da cultura popular e da beleza poética”, defende a artista que garante um show inspirador.

Serviço
O lançamento do livro “Quelé, a cor da voz” que contará com show de Márcia Mah acontece na quarta-feira, dia 22, na Sociedade Cultural e Beneficente 28 de Setembro. A entrada é gratuita e o 28 de Setembro fica na rua Machado de Assis, 112, Centro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário